Às vezes quando escrevo para este blog, me dou ao luxo de fazer desabafos, de ensinar alguma coisa que aprendi, seja na vida ou nos bancos de escola.
Enfim: eu opino sobre as patadas que tomamos da vida.
Hoje farei um pouco de tudo isso.
Vou começar com a difícil arte de escrever conteúdo, seja para meu próprio blog, seja para os outros, já que o ofício de redação é o que me move.
Como jornalista eu me sinto compelida a escrever fatos, usando o menor número de palavras possível, e descrever os tais fatos com clareza.
Porém, estamos no mundo onde você precisa ser “visto” nas buscas online.
Então somos obrigados a escrever uma porção de “variações semânticas”, que, na minha opinião modesta, são o ato de “encher linguiça”.
Encher linguiça escrevendo
O “Encher Linguiça” era um recurso usado quando a preguiça de pesquisar para escrever era mais forte.
Então… não tinha IAs para pesquisar conteúdos. Isso era feito em livros de verdade.
Os livros, acreditem (!) eram escritos por pessoas de verdade, que estudou muito para chegar à conclusão X ou Y da questão.
E sem as facilidades da ferramenta ‘Internet’, que, muitas vezes, é inferior no quesito conteúdo.
Porque eu digo isso?
Por outra coisa que aprendi já na minha meninice… quando a pessoa (no caso a ferramenta), protesta demais contra a ‘mentira’, a ‘fake new’, e a bobagem descartável, é porque quem faz não quer nem saber se isso vai destruir ou melhorar alguma coisa.
Esta semana eu produzi um texto sobre uma parceria comercial, e tive que usar, em um texto de 2000 palavras, 40 variações do vocábulo “palestra”.
Enfim, o texto seria melhor com metade das palavras, mas os robôs da internet precisam “encontrar a meleca que eu escrevi”.
Nossa! Isso me faz sentir “tão bem”.
Os olhos sangrando do revisor
O outro trabalho que fiz foi uma revisão de um artigo acadêmico, que precisava ser comprimido em 20 laudas, mas tinha 30.
E eu pensei: “oba! Cortar texto é comigo mesmo!” E eu cortei… Seis laudas inteiras de enchimento de linguiça.
As 4 laudas não cortadas eram bibliografia que eu não considero “conteúdo”.
Mas nem assim a pessoa ficou satisfeita, porque para ela, se a lauda tem 20 linhas, porque não coloco 25 dentro dela?
Aí entra a falta de conteúdo, porque a pessoa não aprendeu que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço…
E nem falarei na ausência de conteúdo, porque vejo vários trabalhos ocos.
Porém, essas “crianças crescidas” aprenderam com a internet que o importante é chamar a atenção para a tal variação semântica ao invés de ir direto ao ponto.
Debate zero, variações sobre um mesmo tema vazio 100.
Esses dois trabalhos chatinhos me fizeram pensar sobre o momento em que a forma passou a ser mais importante que o conteúdo.
Será que foi o momento em que nos perdemos?
O momento em que a preguiça de procurar fatos mais concretos, mesmo que mais dolorosos e de difícil solução, tomou conta das nossas mentes e corpos?
Enfim, o momento que a preguiça deu espaço para as bobagens e preconceitos que jorram das redes sociais e das mentes vazias.
Veja bem: não vou aqui jogar um monte de meleca nas redes sociais e na internet, porque, de um modo ou de outro, são o meu ganha pão.
Mas para não enlouquecer, não transformo essa ferramenta em divindade, que me diz onde devo ir, o que tenho que fazer, como devo me portar, me vestir, acreditar, comer, beber.
Isso seria o mesmo que acreditar em todas as propagandas da TV e agora das redes, de que esse ou aquele produto é milagroso, ou que esta ou aquela celebridade pode me dar exemplos de vida.
Não é para se espelhar em tudo o que se vê.
Se você quer seguir um exemplo, se mirar em alguém, procure mais próximo.
Tenho certeza de há alguém para servir de exemplo, mesmo que tenhamos uma geração inteira de zumbis impensantes nas proximidades.
Minha mãe costumava dizer que devemos usar nossas cabeças para pensar, e que não é porque “todo mundo está fazendo ou dizendo”, eu tinha que repetir.
Pare de se refletir nas coisas que você lê, porque isso é um robô martelando “variações semânticas” na sua mente.
Não é um pensamento real.
Ah! Você é daqueles que acham a inteligência artificial melhor? Então tá.
Darei a você algo para pensar: meu currículo está em uma plataforma de busca de vagas que usa inteligência artificial para fazer isso.
Sou jornalista, redatora, revisora e analista de comunicação.
Me expliquem, por favor: porque a inteligência artificial me manda vagas de analista em qualquer área, menos na minha, que é “comunicação”?
Talvez seja porque eu não tenha encontrado variações o suficiente da palavra “redatora”.