Como ser cidadã onde não há cidadania?


Primeiramente: eu confesso que estou enrolando há mais de semana para escrever esse texto.

Então… tudo começou com a certeza, cada vez maior, que morar no subúrbio, qualquer um, do mundo, é ser tratado como se fosse coisa e não pessoa.

No meu caso, vejo que nem a administração municipal nos trata como pessoas.

Vejam bem, há muito trabalho no sentido de oferecer educação, saúde pública etc. para quem precisa, no entanto vemos falhas em áreas básicas.

Diadema tem uma administração muito devagar. E não é de hoje.

Como justificar um “amarelinho” fazer de conta que não viu o motoqueiro que subiu na calçada ameaçando os pedestres?

Ou o carro do trânsito da cidade ver um caminhão estacionado na frente do ponto de ônibus?

Então: me digam o que fazer quando você fala de arruaças crescentes em bares e similares e a GCM, que tem dever de atender a isso não fazer nada?

Pior! O guarda que atende a ligação destrata o cidadão e pergunta: “O que você quer que eu faça?”; e desligar na sua cara quando você responde: “quero que você faça o seu trabalho”.

Aliás, quem é a coisa que deixa instalar, na parte residencial de um bairro, um bar de forró, que não tem nem 10 metros quadrados  e que usa a rua como se fizesse parte de seu negócio?

Mas isso não é nada…

Sei que minha cidade não é a única sofrendo de “descaso” com o cidadão.

Aliás, quando vejo os projetos de destruição à minha volta, chego à conclusão que é um metódico ataque.

São muitas palestinas acontecendo ao nosso lado todos os dias.

O que há em comum? São pessoas invisíveis. Aquelas que ninguém liga.

Temos conflitos armados acontecendo agora mesmo em muitos países africanos, mas isso não importa. Estão tão distantes, não é mesmo?

Aqui mesmo, na minha região, vejo pessoas sem ter o que comer, onde morar, como viver.

Enquanto isso nós falamos mal do coitado que está vendendo bala no semáforo, como se a culpa fosse dele de estar vivendo uma subvida.

Neste momento vejo um filme mental de Noam Chomski falando que ninguém interveio ainda na questão palestina porque eles são os suburbanos de lá.

Deste modo os favelados e moradores em situação de rua são os palestinos daqui.

E não, eu não direi que o nosso é mais importante que o alheio, porque estamos no mesmo barco.

Em um sábado, encontrando o ministro dos Direitos Humanos em um local pelo qual eu luto, ouvi histórias de dar enjoo em muito fascista.

Porque sim, o fascista não sabe nem o que é. Assim como não sabe o que é comunismo, mesmo que vocifere contra isso.

Vamos culpar o “outro” por nossos problemas.

É o morador, o preto, o pobre, o despossuído, a mulher os LGBTs.

Essas pessoas nem mesmo entendem que os direitos e deveres das pessoas são para todos.

Então saem armadas para matar, agredir e tornar nossos subúrbios uma Palestina.

É o oprimido que se acha “senhor” de sua vida e da vida alheia, porque não aceita o outro, então tem que acabar com o outro.

E assim a violência aumenta.

Precisamos lutar sim por direitos. O nome disso é cidadania.

Porém essa cidadania não pode ser apenas para alguns, enquanto outros sapateiam nas nossas vidas.

Enfim: cansei de ser uma invisível…