Dia do jornalista, o que há a comemorar?


Hoje, 7 de abril, é o Dia do Jornalista, instituído em 1931, por decisão da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

A homenagem é ao médico e jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, morto por inimigos políticos em 1830.

Naqueles tempos, como nos dias de hoje, exercer a profissão não era tarefa fácil.

Lidávamos com ataques dos poderosos que nos viam (e ainda nos veem) como obstáculos em sua busca por poder.

Então somos pressionados para não publicar essa ou aquela notícia, porque isso vai prejudicar o interesse de alguém.

Para quem tem a ilusão de que esta é uma profissão poética, cheia de coisas maravilhosas, parem de se enganar.

É profissão de trabalho duro, dinheiro pouco.

Temos lutas sem fim para aqueles que ousam levar a informação, doa a quem doer.

Somos xingados, chamados de todos os nomes porque, para muitos, as notícias são a “nossa verdade”.

Não existe isso.

O fato é: O jornalista é o cara que ouve duas pessoas.

A primeira diz que lá fora está chovendo.

A segunda diz que não está.

O jornalista vai até a janela e abre pra saber quem está falando a verdade.

Voltando um pouco a Líbero Badaró, foi o criador do Observatório Constitucional.

Esse jornal independente focava em temas políticos, até então censurados ou encobertos pelo imperador Pedro I.

Então Badaró, defensor da liberdade de imprensa, morreu em virtude de suas denúncias e de sua ideologia que contrariava o poder.

Naquela época, uma crise minava o império, com revoltas populares, repressão, e um povo largado à míngua.

Alguma semelhança com o agora, não é coincidência.

Isso levou à renúncia de D. Pedro em 7 de abril de 1831.

E nessa data, no ano de 1908, foi criada a ABI, para legitimar a profissão, que nunca foi tão atacada como nos dias de hoje.

Hoje, “Líbero Badaró” e “Sete de Abril” são ruas, pelo menos na cidade de São Paulo, onde nasci.

Muitos que passam por elas, mal sabem o que significam seus nomes.

Então termino dando parabéns, com gosto meio amargo na boca.

Desejo que termine esse tempo onde qualquer idiota acha que sabe mais que os outros.

Que partilha informações, mesmo erradas, só porque o primo, do amigo, do tio, do vizinho, da prima, espalhou na rede social.

Antes de tudo, não sou uma detratora das redes sociais.

Mas apenas as vejo como são: uma ferramenta, como o martelo.

Você pode usar o martelo para pregar algo, ou para dar com ele na cabeça de alguém.

O uso que você faz dela é que a torna útil ou perigosa.

E para completar o dia do meu leitor, vou dizer duas notícias que estavam no Twitter de dois grandes jornais brasileiros:

“Fome cresce pela primeira vez em 17 anos. Mais da metade da população não tem comida para pôr na mesa”. (O Globo, 7 de Abril de 2021).

“No ano da pandemia, Brasil tem 11 novos bilionários na lista da Forbes”. (Valor Econômico, 7 de abril de 2021).

Depois disso, e de passarmos das 4 mil mortes diárias por covid, não me peçam para pensar por vocês.

As fotos da página são do jornalista homenageado, e das ruas paulistanas Líbero Badaró e Sete de Abril, em imagens que poderiam evocar tempos melhores e mais respeitosos.

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