Vou pensar melhor neste título, porque há uns bons anos eu me vejo como uma preta naturalizada.
Esse é um termo que aprendi do mestre Ariano Suassuna, que viu nele, assim como eu me vejo, com mais semelhanças do que diferenças.
Estou usando a leveza do Ariano para não gritar de tantas bobagens que ouço no dia a dia.
Domingo estive na Feira Literária de Diadema.
Uma cidade cheia de negros e nordestinos, e nem vou falar em resultados eleitorais, porque não os entendo.
Mas, ali na feira, conversando com muitos e muitas, aprendi mais um pouco sobre a futilidade e a verdade.
A FLID era em homenagem a Carolina Maria de Jesus, escritora, com direito a uma exposição sobre a vida e a obra dessa incrível mulher.
Aí, entre apresentações de folclore, teatro, você começa a conversar com a parceira de stand do amigo e, literalmente, cai o C* da Bunda!
Entre as pérolas, a pessoa que se diz socióloga, diz que o racismo no Brasil é “uma coisa velada”.
Quase perguntei se o livro de cabeceira dela é Casa Grande e Senzala, olhando bem pra cara branca dela.
Bem, eu também sou mais branca que bunda de escandinavo, mas eu tenho consciência, coisa que a muitas pessoas falta.
Eu não sou racista, mas, indo além, eu sou antirracista.
O debate com a dita cuja foi além, porque ela levantou uma questão de que negros alforriados abusavam de outros negros.
Perguntei a ela baseada em que ela falava isso?
E ela insistiu na “sociologia”.
Não sei como o assunto foi parar nisso, mas eu lasquei um Paulo Freire nela, que me respondeu com um: “isso não me pega, prefiro a Caminho Suave” …
Então eu dei um fim ao “debate” perguntando qual livro ela leu de Paulo Freire.
Adivinha só? NENHUM!
Entenderam a futilidade?
Gente que se acha, mas que não tem nenhuma vivência sobre todo
Essa gente que fala só groselha sem base me deixa muito mal.
Me afastei da pessoa porque eu estava ali pela arte e literatura.
E isso eu tive em profusão.
Uma apresentação de um grupo recém-formado na escola de artes de Diadema me deu a primeira sensação de emoção.
De verdade, os autores lendo partes de suas obras me deixou emotiva.
As apresentações dos grupos da cidade, me fizeram pensar que talvez, no ano que vem, nada disso haverá.
Terminei o dia vendo uma peça de teatro chamada “O Avesso da Pele”, baseada no livro de Jeferson Tenório tão debatido e combatido pelos racistas de plantão.
O coletivo Ocutá iniciou a peça quase como um exercício, mas chegou num ponto que minha emoção transbordou.
Eles (os rapazes do coletivo), me fizeram chorar, rir, sentir cada dor e cada carinho.
Maravilhosos!!!!
Por essa peça, por tudo o que vejo acontecer com muitos (e ponha muitos nisso) negros só por sua cor de pele, irei marchar no dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra.
Esse dia não é de festa, é de luta.
Estarei com vocês meus irmãos e irmãs.
E que Deus me livre de alguém vir me atiçar com a frase besta: Não tem dia da consciência branca?
Venham marchar conosco.
E que Zumbi e Dandara nos protejam!