Sexta-Feira Negra de chuva


Isso deveria ser sobre preços, mas é sobre enchente

Tradição nos Estados Unidos, onde a sexta-feira após a Ação de Graças é um dia de comprar coisas pela metade (ou menos) do que o preço, a tal Black-Friday desembarcou aqui no Brasil.

Então as pessoas loucas deste país vão todas tentar comprar alguma coisa pela metade do dobro do preço.

Isso porque temos várias diferenças dos nossos amigos da parte norte do continente americano.

Uma delas é a quantidade absurda de impostos sobre cada produto, o que torna a prática quase inviável.

A outra, que leva ao motivo deste artigo, é que não temos Ação de Graças.

Antes de tudo, não sei se temos motivos para dar graças.

Já estou ouvindo daqui os gritos de: “COMO ASSIM”?

cemitério Vila Pires em Santo André com deslizamento de túmulos

Ok! Estamos vivos e respirando, e o que mais?

Estamos pagando impostos absurdos até sobre a nossa comida e remédios.

Pagamos muito caro pelo direito de ir e vir.

Os impostos e taxas que pagamos deveriam retornar a nós em forma de escolas públicas decentes; hospitais, e atendimento médico universal, saneamento, ruas e estradas seguras para circulação, policiamento decente e, especialmente inclusão.

Cada dia eu vejo menos gente trabalhando nas empresas, nos bancos, nas lojas, nos serviços públicos.

Enfim: cada vez menos gente ganhando salários que fazem a economia girar.

Me pergunto: aonde estamos indo?

Enchente de 2018, Piraporinha, Diadema

Vamos começar as explicações.

O Grande ABCDMRR é formado por sete cidades, cercadas de rios e serra por todos os lados.

Já tivemos uma indústria que trouxe desenvolvimento para todo o estado e o País.

Mas, com o passar do tempo, ao invés de usarmos esse desenvolvimento para construir uma região melhor para todos, resolvemos que tínhamos que excluir pessoas.

Isso para que uns pudessem se dar bem enquanto outros se danavam.

Então, estou fazendo essa volta toda para falar (e mostrar) algumas imagens da sexta-feira negra aqui no Grande ABC.

O Grande não é “maior” em nada e que continua passando as mesmas coisas de sempre.

E essa é a coisa que continuamos fazendo.

Aliás, nem percebemos que nós mesmos fomos excluídos.

Em um futuro bem próximo, podemos não ter como morar, comer, viver.

Ontem, mais uma vez, uma chuva que mais parecia um tornado veio para cima de nós.

O meu bairro, que já não tinha enchentes há uns dois anos, ficou debaixo d’água.

Não teve piscinão que desse jeito.

Mas foi suave se compararmos a outros lugares.

Piraporinha ficou intransitável entre as 17 horas e as 23 horas, quando o caos começou a voltar a uma pseudo-normalidade.

Porém não posso dizer o mesmo do centro de São Bernardo.

Então, a maior cidade da região passa há anos por intervenções que tornariam aquele espaço um “centro seco”.

Nessas horas gostaria de dizer que todos estão fazendo o melhor que podem, mas não.

Porque é mais fácil dizer em grandes outdoors (muito caros) que retomaram as obras.

Aliás, parece que estão fazendo um grande favor.

Cura pela natureza
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Acabem de uma vez com essas obras e terminem esse inferno logo.

Em Santo André, não sei como ficou o centro, mas vi um vídeo do cemitério de Vila Pires.

Foi tanta chuva que desbarrancou, com rompimento de muros de taludes, e caixões sendo despejados pelo aguaceiro.

Imagens dignas de filmes de horror, mas nada novo em se tratando do Grande ABC em particular ou do Brasil em larga escala.

Há pouco mais de uma semana, uma ponte em São Paulo literalmente solapou.

Por sorte (???) isso aconteceu num horário de pouco movimento e não houve vítimas.

Eu poderia culpar o poder público apenas por falta de manutenção.

Mas a coisa fica melhor (???) quando se descobre que as plantas originais da ponte não existem mais.

E as explicações são lindas, indo desde: “os originais estavam na casa do engenheiro que pegou fogo”, e “o estado não tem cópias em seu acervo”.

Somos um país totalmente carente de infraestrutura e ainda temos alguns governantes engraçadinhos.

Esses DESgovernantes não investem em novas obras e não fazem sequer a manutenção básica no que já existe.

E assim, dando uns poucos exemplos, mostro o desgoverno com que estamos sendo tratados há pelo menos uns 100 anos.

Todo mundo acredita que um país desenvolvido se mostra por suas ruas limpas, seus prédios bem cuidados, suas estradas e ruas transitáveis.

Aliás, isso é verdade, mas não é a única verdade.

 Porque todas essas coisas só existem quando o povo que habita esse país não foi jogado na lixeira enquanto construía os privilégios de uns poucos.

Enchente em São Bernardo

Como vocês podem ver, a sexta-feira foi má, mas não vejo algo muito bom pela frente, a não ser que todos nós mudemos de atitude.

Precisamos exigir e ajudar a construir um país desenvolvido não só para uns poucos privilegiados.

O país tem que ser bom para todos nós, porque no momento em que esquecemos o outro, esquecemos qualquer humanidade.

E para as pessoas que adoram mostrar as histórias de homens que “venceram” com seu próprio esforço:

Tenho visto, nesse meus muitos anos de vida, que os “vencedores” tiveram ajuda de um monte gente que nunca foi reconhecida.

Esses homens podem estar, hoje mesmo, sem ter onde dormir porque suas casas foram destruídas e seus direitos aniquilados.

Se mudarmos de verdade, talvez possamos ter uma ação de graças e aí sim, uma Black-Friday.

Ah! Como jornalista, sei que, muitas vezes não temos o que falar quando estamos ao vivo.

Mas as chuvas e as enchentes não causam só “transtornos” na volta para casa.

Elas destroem vidas.

 

Estamos vivendo eventos sérios de mudanças climáticas já apontadas, há anos, mais uma vez.

Sim, temos enchentes porque nosso modelo de ocupação já começou errado.

Não ouvimos o básico das populações originárias.

Preferimos a arrogância de nos acharmos superiores e tudo o que trouxemos foi a morte, a fome, a doença e o desespero.

As enchentes e este post são de 2018, e perto do Rio Grande do Sul em 2024 são nada.

Já não chega?