Mesmo dando tudo de “si”, hoje não chego a lugar nenhum


Hoje é dia primeiro de outubro, pra mim uma data bem dolorosa.

Afinal, se minha irmã Leda Silvia estivesse neste plano, ela faria 69 anos hoje.

Um ser do mal roubou sua vida quando ela tinha apenas 28 anos.

Alguém que se dizia amante.

Porém, quem ama não mata.

Mesmo sem passar essas informações, tem gente hoje achando que eu sou meio doida.

Depois de lerem esse texto, terão certeza absoluta.

No dia dos namorados (12 de junho) de 1983 assassinaram minha irmã no meio da rua.

Não sei por que ela desceu para falar com um cara que a ameaçava já há tempos.

Alguém a incitou a isso?

Então: sei apenas que ela temia e seus temores eram reais.

Depois de 40 anos penso que o crime hoje tem um nome, mas não uma solução.

Tantas mulheres são agredidas e mortas hoje quanto eram naqueles tempos.

A diferença é que hoje temos mais estatísticas e mais informação, mas isso não muda os fatos.

Nada ou quase nada foi feito para mudar as estatísticas.

Violentam mulheres?

Elas provocaram…

São agredidas?

Também, não agradam o marido… Ou traíram.

Será que são a “outra”?

Estamos no século XXI e ainda somos as “filhas de Eva”

Somos criminalizadas por sermos vítimas .

Ontem ouvi uma homilia de um padre convidado (não lembro o nome),

Então, ele começou falando do dia de São Jerônimo, o organizador da Bíblia e do círculo de mulheres que o cercava e o ajudou: Leia, Marcela, Paula, Blesila e Eustóquia ajudaram nas traduções e interpretações.

Ouvi da boca de um sacerdote as palavras: “a igreja não existiria sem as mulheres! Nós não existiríamos sem as mulheres!”

Foi uma afirmação do quanto as mulheres são deixadas de lado nas decisões, mesmo quando elas morrem na luta.

Para cada voz que nos exalta há umas 100 para nos rebaixar…

Então: Até quando?

Se exigimos o simples direito à paz e ao silêncio somos ameaçadas, zombadas, destratadas…

Enfim chegamos ao ponto de não ter mais vontade, porque além de não nos ouvirem nos ameaçam.

Sentimo-nos estúpidas porque o tempo passa, a luta continua, mas nada tem solução.

Então, voltando à minha história, nada aconteceu.

Minha irmã morreu, assim como uma grande parte da minha família, e eu nem sei o que ainda faço aqui.

Sentindo a inutilidade da existência onde não resolvo nada, nem mesmo uma simples pendência de vizinhança barulhenta.

Talvez eu não mereça… Ou não tenha lutado o bastante.

Enfim: a única coisa que realmente tenho certeza é que temos lutas diferentes, mas isso não significa que não temos lutas.

Daqui a pouco vou até a igreja rezar por minha irmã.

Então, é tudo o que me resta a fazer no atual momento, assim como em 1983.

 

 

 


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